sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Líbia - Batalha de ideias

Líbia - Batalha de ideias
Sexta, 21 Outubro 2011 21:11

211011_libiaflagsLuta Marxista - Na esquerda dita trotskista existem duas posições principais: os que apóiam Kadafi – Castristas, Chavistas, LBI e outros – e aqueles que apóiam a oposição – LIT, UIT, PO, PTS e muitos outros.

Todos abrem mão da independência de classe, porque dão apoio político a um ou outro campo burguês. O primeiro setor, mesmo que o negue, considera progressista o "anti-imperialismo" de Kadafi. A sua palavra de ordem chave é: "colocar-se no campo militar de Kadafi", não como uma questão de ordem apenas militar, mas política. Isso se expressa nos elogios, mesmo que parciais, à Kadafi, na relativização da denúncia política e, fundamentalmente, no abandono do método marxista de apoio às semi-colônias com os métodos do proletariado: greves, manifestações, denúncias, agitação antiimperialista. Como não têm qualquer implantação na Líbia, essa conciliação fica pouco clara, mas a sua lógica levaria à suspensão da luta de classes enquanto durar a luta contra a intervenção. Confundem a prioridade da luta militar contra a intervenção imperialista com a suspensão da luta política contra a ditadura.

O outro setor faz o inverso. A luta contra a ditadura e pela democracia seria a prioridade. Nesse sentido, propõem uma frente única com todos os setores anti-Kadafi, inclusive, o imperialismo. Por isso, apóiam a oposição, a quem chamam de "o povo rebelado", o que é uma fraude, mesmo que a luta contra a ditadura conte com apoio popular e a sua derrubada seja uma aspiração legítima. Acontece que essa oposição pró-imperialista hegemonizou desde o início o processo. Não existe movimento de massas espontâneo e revolucionário que possa ser disputado, como também não existe organismos de trabalhadores, mas da burguesia tribal. Em Bengazi tremula a bandeira da monarquia. Não há "povo em armas" no sentido de um movimento independente que se possa disputar como quer essa esquerda, mesmo que a oposição arregimente parte do povo, mas sob estrito controle. Não pode existir guerra onde a burguesia não acaudilhe o povo. O apoio dessa esquerda à oposição burguesa é um apoio à intervenção imperialista. Quando fala em luta em duas frentes – contra Kadafi e contra a intervenção – está fazendo jogo de cena, porque é vergonhoso o apoio ao imperialismo. Toda a sua política é de apoio à intervenção da OTAN, a quem atribui a tarefa de implantar a democracia. A LIT, para não ficar muito feio, tem sido obrigada a denunciar a "direção burguesa da oposição". Segundo Eduardo Almeida: "É necessário estar junto ao processo revolucionário, junto às massas árabes, (...) lutando contra suas direções burguesas pró-imperialistas". Afirma também que não se pode identificar um movimento com a sua direção. Como se, no caso específico, pudesse separar os soldados arregimentados da direção burguesa. Portanto, apóia essa direção e não as supostas massas revolucionárias. Essa denúncia da direção burguesa não implica em mudança da sua política de apoio a ela, por exemplo, ao exigir armas e homens para o movimento, ou seja, para a burguesia de Bengazi. Essa crítica é uma manifestação acabada de cinismo.

Sobre o início do movimento, se foi espontâneo ou provocado pelo imperialismo, é inegável que este teve um papel na deflagração dos fatos. Num brevíssimo prazo de dois dias, a oposição consolidou a sua posse militar sobre Bengazi. Isso não é característica de um movimento espontâneo. É notório a existência de grupos financiados pelo imperialismo, organizados de longa data, inclusive, contando com milícias sediadas no Egito, que foram os primeiros a pisar o solo líbio, tais como a Frente Nacional para a Salvação da Líbia e a Conferência Nacional de Oposição Líbia. Podemos discutir o grau de importância da influência externa na deflagração do processo, mas não o fato em si. Não negamos que a oposição tenha ganhado rapidamente apoio de massas, mas não foram as massas espontaneamente que tomaram Bengazi. De qualquer forma, os acontecimentos líbios são muito diferentes dos da Tunísia e Egito, onde não houve sombra de organização militar e de guerra civil, por mais que a crise também tenha influência sobre a Líbia.

Uma divergência fundamental é se levamos a luta militar e política em duas frentes ou se priorizamos a luta contra a OTAN. A luta militar em duas frentes significa que colocamos em pé de igualdade Kadafi e o imperialismo. Não se poderia fazer frente única com Kadafi porque o mesmo estaria bombardeando o seu próprio povo. Todas as ditaduras da região estão assassinando o seu povo. Kadafi não é exceção. Hoje o que existe é uma guerra civil e uma intervenção imperialista, onde todos matam o povo: Kadafi, a oposição e principalmente a OTAN. Stalin também matava o seu povo, o que não impediu Trotsky de propor a frente única com ele. Kerensky instituiu a pena de morte na frente de batalha e reprimiu a insurreição camponesa, o que também não impediu a frente única dos bolcheviques com ele contra Kornilov, entre tantos outros exemplos.

Esses exemplos nos mostram que o massacre do próprio povo, mesmo sendo objeto do ódio popular, não é um critério marxista no sentido da definição da frente única contra o imperialismo. A burguesia agitou esse fato para justificar a intervenção e a esquerda se baseia nisso para negar a frente única e principalmente para fazer de Kadafi o inimigo principal, o que significa um apoio tácito ao bombardeios da OTAN. A defesa das nações oprimidas é um princípio do marxismo, por mais sanguinárias que sejam suas direções, porque a vitória das mesmas assesta um golpe no imperialismo, que é o inimigo principal dos povos. Não se pode tergiversar sobre quem é o inimigo principal. Assim, Trotsky defendeu a Abissínia contra a Itália, apesar de Negus; a China contra o Japão, apesar de Chan Kai Chek, etc, etc. Como afirmou também: "em uma luta entre uma república civilizada, imperialista, democrática, e uma monarquia atrasada, bárbara, de um país colonial, os socialistas estão totalmente do lado do país oprimido, apesar da sua monarquia, e contra o país agressor, apesar da sua democracia" (Escritos).

Não se pode igualar o mais sanguinário ditador de uma semi-colônia com Obama, Cameron, Sarkozy ou Berlusconi. Não se trata de medir quem é mais cruel, mas quem tem mais poder, quem causa mais prejuízos à humanidade. Não há termos de comparação. O imperialismo escraviza 2/3 do mundo. O poder de Kadafi não ultrapassa as fronteiras da Líbia. A política revolucionária não pode ignorar essa pouco sutil diferença, como pressupõe a suposta luta em duas frentes e a palavra de ordem de Abaixo Kadafi! Podemos fazer analogia com o seguinte método de Trotsky: "Defesa incondicional da URSS significa, literalmente, que nossa política não está determinada pela ação, manobras ou crimes da burocracia do Kremlin, mas somente pela concepção dos interesses do Estado soviético e da revolução mundial". Analogamente diríamos: defesa incondicional da Líbia significa, literalmente, que nossa política não está determinada pelos crimes de Kadafi, mas pela obrigação de defender as nações oprimidas agredidas pelo imperialismo, no interesse da revolução mundial.

Alguém poderá dizer que Kadafi é um preposto do imperialismo. Certamente, como Saddam também o era. Kadafi fará qualquer indignidade para ganhar novamente as bênçãos de Obama. Mas o concreto é que a Líbia está sendo bombardeada pela OTAN com o pouco louvável propósito de transformá-la numa colônia. Neste momento, contra a sua vontade, não existe no mundo quem combata com armas na mão a intervenção a não ser Kadafi.

Algum companheiro pode argumentar também que não ignora a diferença entre Obama e Kadafi, mas luta pela revolução socialista que, ao mesmo tempo, derrubaria Kadafi e expulsaria o imperialismo. A luta se daria em duas frentes. Esse tipo de argumento foi usado pela oposição dentro do SWP americano, na década de 30, quando da polêmica sobre a guerra e contra o defensismo defendido por Trotsky. Na guerra da URSS contra a Finlândia a oposição se opunha "a ambos os governos e seus exércitos". A isso Trotsky responde: "Se lutaram na Espanha (a IV Internacional) no campo republicano, apesar dos stalinistas estarem estrangulando a revolução socialista, tanto mais devem participar na Finlândia naquele campo em que os stalinistas estão sendo obrigados a apoiar a expropriação dos capitalistas". A oposição também defendia "a realização de uma insurreição simultânea contra Hitler e Stalin na Polônia ocupada". Trotsky respondeu: essa seria a solução ideal, mas não é a realidade. O problema concreto é: o que fazer se Hitler atacar antes, quando os trabalhadores ainda não tiverem condições de fazer a revolução proletária? Nessas condições, propõe a frente única militar com Stalin contra Hitler. "(a) tarefa do momento: resistência militar contra Hitler", "não podemos deixar que Hitler derrote Stalin; isso é tarefa nossa". "Enquanto isso, com as armas nas mãos lutam contra Hitler, os bolcheviques deverão fazer propaganda revolucionária contra Stalin, preparando sua derrota para a próxima etapa". "O proletariado tem razões suficientes para derrubar e destruir a burocracia stalinista, corrompida até a medula. Mas, por essa mesma razão, não pode nem direta, nem indiretamente, deixar essa tarefa a Hitler ou ao Mikado. Stalin derrubado pelos trabalhadores é um grande passo para o socialismo. Stalin eliminado pelos imperialistas é a contra-revolução que triunfa". Kadafi derrubado pela OTAN é a contra-revolução que triunfa.

A oposição negava essa política. Para ela, frente única soava como apoio político a Stalin. Então, Trotsky argumentou: "Esse tipo de defesa da URSS será diferente – tanto quanto o céu é diferente da terra – da defesa oficial que é levada a cabo sob o lema: Pela pátria! Por Stalin! Nossa defesa da URSS é colocada sob o lema: Pelo socialismo! Pela revolução mundial! Contra Stalin! Os erros existentes sobre o problema da defesa da URSS, normalmente partem de uma compreensão incorreta dos métodos de defesa. De forma alguma, a defesa da URSS significa se aproximar da burocracia do Kremlin, aceitar sua política, ou conciliar com a política dos seus aliados".

Outro companheiro poderá perguntar: mas que tem isso a ver com a Líbia? Tem tudo a ver. O método é o mesmo, assim definido por Trotsky: "Como questão de fato, defendemos a URSS como defendemos as colônias". Tal como na época, hoje parte da esquerda não concorda com esse método. Como seria aceitável uma frente única com um ditador sanguinário? Também porque, para essa esquerda, a luta é pela "democracia". Entretanto, o seu vínculo formal com o marxismo a obriga a admitir a frente única em princípio, como faz Eduardo Almeida: "Frente a essa invasão seria necessário uma ampla unidade de ação contra o imperialismo. O que impede isso é o próprio Kadafi". Edu conhece o marxismo. Embora não o pratique, precisa saudar a bandeira admitindo a frente única com Kadafi em princípio. Mas quando diz que é o próprio Kadafi que impede a frente única pelos seus crimes, está arranjando um pretexto e afrontando o método trotskista: "a nossa política não está determinada pelos crimes de Stalin". Edu faz essa declaração porque não pode deixar de reconhecer em princípio o tradicional método bolchevique de apoio às nações oprimidas e de frente única no terreno prático com as suas direções, sejam elas quais forem.

A frente única com Kadafi, necessária a princípio, como reconhece o próprio Edu, na prática não está colocada, mas por outros motivos, não pelos seus crimes. Uma razão é que não existe um partido revolucionário na Líbia. Frente Única é um acordo entre duas forças políticas, não entre um governo e o nada. E, caso houvesse tal partido, muito provavelmente também seria impossível. Dificilmente o imperialismo invadiria um país no qual houvesse um movimento revolucionário, a não ser para sufocá-lo. Nesse caso, faria uma aliança com a ditadura local. E na hipótese de uma invasão contra o país e seu governo, este preferia capitular ante o imperialismo que fazer uma aliança com seu proletariado. A burguesia é sempre derrotista diante do seu próprio proletariado. Não existe mais burguesia nacional progressista. Como conseqüência, a Frente Única antiimperialista não é mais uma tática privilegiada, como propunha as Teses do Oriente. Mesmo assim, a frente única não deixa de ser uma necessidade nos casos de agressão imperialista. Mas não podemos propor frente única onde não existe partido ou um único militante, repetindo como ensinamento bíblico: "pela unidade militar com Kadafi", como faz a LBI.

A política é sempre para situações concretas, reais ou supostas, mas bem definidas. Não existe uma tática geral para todas as situações. Por exemplo, as políticas seriam distintas no caso de haver um partido, um grupo ou apenas dois militantes. Não pode haver uma espécie de tática "tamanho único", a não ser no receituário da esquerda doutrinária. Nesse sentido, definimos princípios gerais: o apoio à Líbia contra a intervenção com os métodos do proletariado, a prioridade da luta contra o imperialismo e não contra Kadafi no terreno militar, a continuidade da luta de classes contra Kadafi, a necessidade da frente única em princípio. Uma política para uma situação hipotética não pode ir além de certos limites, sob pena de cair na artificialidade. Esse é o caso da LBI, não o nosso.

A palavra de ordem de Abaixo Kadafi! é equivocada, não porque não existam motivos mais do que suficientes para querer a sua cabeça, mas porque não existem condições para tal, que precisam ser criadas, e porque existe uma intervenção imperialista. Como disse Trotsky sobre a burocracia: "O proletariado tem razões suficientes para derrubar e destruir a burocracia stalinista, mas por essa mesma razão não pode deixar essa tarefa a Hitler". Os trabalhadores líbios têm razões suficientes para derrubar a ditadura de Kadafi, mas não podem deixar essa tarefa à OTAN ou à oposição pró-imperialista. A realidade é concreta. O Abaixo Kadafi! hoje somente pode acontecer pelas mãos do imperialismo. Não há outra alternativa. Essa é a preferência da LIT, UIT e os demais. Não podemos brincar de palavras de ordem radicais. Pelas mesmas razões, os bolcheviques não propuseram o Abaixo Kerensky! ou o abaixo o governo republicano, na Espanha. Quando a LBI brincava de propor Abaixo FCH!, isso não tinha nenhuma conseqüência e soava apenas como uma denúncia de FCH. Portanto, era uma palavra de ordem simpática. Mas quando os bombardeiros da OTAN despejam toneladas de bombas sobre a Líbia para dar sentido reacionário ao Abaixo Kadafi!, a situação é radicalmente diferente. Nas condições atuais, Kadafi somente pode ser derrubado pelo imperialismo. Por isso, o Abaixo Kadafi! hoje é a palavra de ordem de apoio à oposição e à OTAN.

Se é verdade que no palco dos acontecimentos a esquerda nada tem a fazer, a não ser o abstrato "no campo militar de Kadafi" da LBI, no nosso país teria muito. Apoio à Líbia com os métodos do proletariado significa: greves, manifestações, atos de todo o tipo. É preciso desmascarar o imperialismo, seus cúmplices, sua ideologia, seu discurso "humanitário" e "democrático" cínicos. Nada impede a esquerda de cumprir esse papel. Essa seria a sua obrigação. Se não tem forças para chamar uma greve de solidariedade, pode muito bem fazer manifestação, panfletagem ou agitação. A despeito das divergências políticas, todos se dizem da boca para fora contra a intervenção, mas nada fazem. Essa omissão deixa claro como o sol que nasce todos os dias que a esquerda está gostando dos bombardeios "democráticos" sobre a Líbia. Caso propuséssemos a essa esquerda um ato em Porto Alegre, esta não responderia. E caso saísse tal ato improvável, seria implicitamente para apoiar a oposição e a intervenção, através de palavras de ordem do tipo: Abaixo Kadafi!, armas e homens para o "povo rebelado", ou seja, para a oposição, ou seja, para o imperialismo.

Independência de classe

Nenhum dos setores da esquerda – ou os que apóiam Kadafi ou os que apóiam a oposição – respeitam o princípio da independência de classe, nem mesmo o principio da defesa das nações oprimidas, mesmo que os primeiros coloquem o imperialismo como o principal inimigo, mas delegam a luta contra ele ao governo burguês. A defesa da nação oprimida pelo imperialismo é um princípio bolchevique que a esquerda renega. Esse princípio é incompatível com o apoio à oposição burguesa, que pede a intervenção imperialista e para quem esta é feita. Trata-se de uma esquizofrenia cínica o seu discurso de que a intervenção é contra a "revolução", quer dizer, contra a oposição. A frente única militar com o governo da nação agredida, seja ele qual for, inclusive Kadafi, não implica necessariamente o apoio político e ele. A esquerda que nega a tática da frente única, não raciocina em termos de uma política independente. Da mesma forma, os que apóiam o governo também negam a independência de classe. Esquecem que esse apoio deve ser com os métodos do proletariado, sem abandonar a luta de classes, a denúncia política e a criação das condições futuras para a sua derrubada. Sobre isso, Trotsky diz, escrevendo sobre a Índia colonizada pela Inglaterra: "No caso de que a burguesia indiana se veja obrigada a avançar ainda que seja um milímetro na luta contra a dominação arbitrária da Grã-Bretanha, o proletariado, naturalmente, terá que apoiar esse milímetro. Mas o apoiará com os seus próprios métodos: atos massivos, consignas audazes, greves, manifestações, atividades decididamente combativas, segundo a correlação de forças e as circunstâncias existentes" (Escritos – Tomo XI). E ainda: "A principal tarefa na Índia é a derrota da dominação britânica. Esse objetivo impõe ao proletariado apoiar toda ação opositora e revolucionária dirigida contra o imperialismo. Esse apoio deve ser acompanhado de uma firme desconfiança na burguesia nacional; Temos que observar estritamente o velho preceito: marchar separados, golpear juntos!". A esquerda "defensista", esquece o princípio da "desconfiança na burguesia nacional", no caso, no "ditador sanguinário" e a denúncia política dele, bem como, a defesa da nação oprimida com os métodos do proletariado, substituído pelo abstrato "no campo militar de Kadafi".

Morre Kadafi e, com ele, o nacionalismo árabe do século XX

Morre Kadafi e, com ele, o nacionalismo árabe do século XX


Líbia - Direitos nacionais e imperialismo
Sexta, 21 Outubro 2011 02:00

PCO - De representante do nacionalismo árabe a serviçal do imperialismo.

No dia 20 de outubro de 2011, Muammar Abu Minyar al-Gaddafi foi morto pelas forças do governo de transição, na sua cidade natal, Sirte. Com ele fecha-se o ciclo dos governos nacionalistas árabes inspirados no líder egípcio Gamal Abdel Nasser.

Aos 17 anos, Kadafi ingressou na Academia Militar de Benghazi. No primeiro ano do curso, formou um grupo de opositores ao governo do rei Idris I que, nos últimos anos, tinha aprofundado a submissão aos imperialismos norte-americano e inglês. Em 1º de setembro de 1969, o então Coronel Kadafi, que na época tinha 27 anos, foi um dos líderes do golpe de estado nacionalista encabeçado por um grupo de jovens oficiais, inspirados em Nasser.

Após a tomada do poder, o novo governo fez a reforma agrária, que deu dez hectares, trator e implementos agrícolas a cada família, e nacionalizou o petróleo, que é a base econômica do País, proibiu a exportação de petróleo para os EUA, confiscou 200 multinacionais imperialistas e nacionalizou o crédito através do Banco Central Estatal. Com os recursos obtidos da exploração do petróleo, implementou melhorias nos programas sociais, principalmente educação e saúde. Ampliou a participação dos trabalhadores na gestão das empresas estatais e das mulheres na sociedade. Expulsou as bases militares norte americana e inglesa, os colonos italianos, que continuavam no País desde a invasão que aconteceu poucos anos antes da Segunda Guerra Mundial, e as comunidades judaicas. Até os anos 80, patrocinou e apoiou organizações políticas e países que lutavam contra o imperialismo norte-americano e os sionistas israelenses, como por exemplo o Fatah e vários outros grupos palestinos, os Panteras Negras nos EUA, etc. Impulsionou o pan-arabismo através de várias tentativas de unificação com o Egito e Síria; após fracassar, assinou um protocolo de união total com a Tunísia, mas também fracassou. Organizou o afundamento de navios imperialistas no Mediterrâneo, atentados contra o governo de Israel, disparou mísseis contra a Sicília e enfrentou os imperialismos norte-americano, britânico e francês.

Em 1986, o imperialismo norte-americano lançou ataques aéreos contra Trípoli e Benghazi e impôs sanções econômicas contra a Líbia, sob a alegação de que o governo líbio teria apoiado um atentado a bomba numa discoteca em Berlim.

Em 1993, Kadafi reestrutura o exército líbio após um grupo de altos oficiais terem fracassado numa tentativa de golpe de estado. Os altos mandos passaram a ser controlados por pessoas de sua estrita confiança e membros da sua família. As tropas de elite e os armamentos pesados foram concentrados em Trípoli sob o comando de um de seus filhos, o que facilitou a contraofensiva contra os rebeldes no início deste ano.

Ainda no mesmo ano, Kadafi sofreu um atentado de um movimento islâmico radical, e, em 1998, um novo atentando que também fracassou.

O esgotamento do governo nacionalista de Kadafi

No início dos anos 90, o regime começa a dar sinais de esgotamento. Com a queda do preço do petróleo, a economia, que não fora diversificada, desacelera, piorando as condições de vida das massa trabalhadoras, o que gerou o aumento da oposição interna.

Com o neoliberalismo em pleno auge, Kadafi inicia uma aproximação com o imperialismo. Em 2003, anuncia que desistirá das armas de destruição em massa e que se juntará à guerra ao terror, liderada pelo imperialismo norte-americano, que logo depois suspendeu as sanções contra a Líbia. Em seguida, os principais setores petrolíferos foram entregues as multinacionais imperialistas, e o mesmo acontece com outros setores estratégicos da economia.

Em agosto de 2008, a Líbia estreitou as suas relações econômicas com a Itália. A Itália pagou à Líbia US$ 5 bilhões como indenização pela ocupação militar na época de Mussolini e obteve o comprometimento do governo líbio no combate à emigração ilegal, além de várias vantagens para as multinacionais italianas, principalmente as petrolíferas. O petróleo líbio passou a representar 10% do consumo italiano.

Acordos similares foram feitos com outros países imperialistas europeus, tais como a Grã Bretanha, a França e a Espanha.

As privatizações foram acompanhadas de grande corrupção que enriqueceram os círculos próximos à família Kadafi, sob a supervisão e apoio do FMI (Fundo Monetário Internacional).

A aplicação da cartilha do neoliberalismo na Líbia piorou sensivelmente as condições de vida das massas trabalhadoras, que foram muito afetadas com a subida dos preços dos alimentos e a eliminação dos subsídios aos serviços públicos, o que acabou impulsionando várias revoltas que precederam a última grande mobilização popular que estourou em março deste ano.

Os rebeldes conseguiram, inicialmente, tomar várias cidades importantes do País chegando inclusive até as portas de Trípoli. Mas o núcleo fundamental do exército e os armamentos, que estavam concentrados na cidade, assim como o uso de mercenários possibilitou um forte avanço das tropas governistas até a cidade de Benghazi, foco da revolta. O imperialismo apoiou os setores de direita dos rebeldes e iniciou um processo repressivo para destruir os elementos independentes e tomar conta da oposição e começou bombardeios no País com o objetivo de enfraquecer as forças do governo e também os setores revolucionários dos rebeldes, inclusive chegando a cogitar a possibilidade de dividir a Líbia. O verdadeiro objetivo do imperialismo era o controle do petróleo, pois a produção, antes de março deste ano, era de 1,6 milhões de barris diários e as reservas de 50 bilhões de barris de óleo leve, o de melhor qualidade da África.

Em agosto de 2011, as tropas rebeldes tomaram Trípoli. O CNT (Conselho Nacional de Transição) foi reconhecido como governo na Líbia pelas principais potências imperialistas e vários outros países. Kadafi e o restante das suas tropas refugiaram-se em Sirte e algumas outras cidades, que foram bombardeadas pela OTAN e atacadas por terra pelas tropas do CNT. Em 20 de outubro de 2011, Kadafi é capturado e morto.

O CNT, dominado pelos setores controlados pelo imperialismo norte-americano e europeu, é o principal mecanismo de freio ao avanço da revolução na Líbia. Mas as suas contradições internas são ainda mais profundas que as existentes no governo de Muamar Kadafi, e poderá enfrentar, no próximo periodo, a oposição de diversos grupos militantes armados e, principalmente, o avanço das massas trabalhadoras devido ao aprofundamento da política de espoliação do imperialismo.

A debilidade do nacionalismo em combater o imperialismo até o fim, uma vez que não é capaz de expropriar o capital e apoiar-se nas massas, mas procura usar as massas para se contrapor à pressão do imperialismo, sendo mais fraco que ambos, conduz à sua decadência e ao seu submetimento ao imperialismo, o qual, frequentemente traz consigo a liquidação do nacionalismo dependente pelo próprio imperialismo quando perde o apoio das massas.

A derrocada de Kadafi ilustra uma vez mais esta que é uma das leis fundamentais da revolução em nossa época.

A crise conjunta de todo o nacionalismo árabe, da qual a liquidação de Kadafi nas mãos do imperialismo é um dos últimos capítulos dessa agonia. Essa crise, no entanto, não significa a vitória ou o fortalecimento do imperialismo, mas é um capítulo do aprofundamento da crise revolucionária nos países árabes e nos países atrasados de um modo geral.

Uma questão de propriedade

Morreu Kadhafi.
Urram salivando já os democratas: Existe menos um tirano á face da terra.
Mas quem matou Kadhafi? O bando de selvagens que arvorando-se em revolucionários se constituiram numa horda, assumindo para si mesmos a liberdade dos Líbios e pelejaram pela "Democracia" ou terão sido aqueles que tb e servindo-se das mesmas razões assassinaram Che Guevara, Bin Laden(este que eu considero nunca ter existido a não ser na colossal farsa que o Rei dos Psicopatas o Sr George Bush inventou para assaltar o Iraque), gostariam de vêr morto Hugo Chavez e Fidel Castro?
Aqueles que gostariam de vêr a Ilha Cubana enporcalhada com jogo ilegal, cabarets, casinos, e toda a sorte de prostitutas.
Afinal quem terá a responsabilidade moral pela norte de Khadafi?
Será preciso perguntar?
Morreu Kadhafi?
Vivam todos os Kadhafis deste mundo que sem qualquer culpa directa ou com eles relacionada directa ou indirectamente têm a infelicidade de terem petróleo no solo dos seus países.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Chegou a Hora da Verdade

Mudámos, como eu já disse, de Moleiro, mas nada mais.
Há muito que venho profetizando ou melhor constatando que a hora da verdade chegaria, que os carneiros podem ir coçando a lã pois caso contrário serão expostos aos rigores de um Inverno que lhes será imposto por Anticristos, uns Socialistas outros Social-democratas, mas todos sedentos de sangue. Como dizia o Zeca,"..vêm em bandos com seu ar sisudo sugar o sangue fresco da manada...".
E aí estão eles a sugar o sangue de uma massa disforme e mansa a que só por ironia se pode chamar de Povo.
Primeiro foram os Socialistas que deixaram este pequeno recanto exangue e partiram com os bolsos cheios e foram para a Gália estudar Filosofia. Agora são outros os vampiros que culpando aqueles por se terem empanturrado deixaram o País na bancarrota e assim sendo há que pagar o "pato" e os comensais são sempre os mesmos.
Eu á medida que vou assitindo a tudo isto, cada vez tenho mais a minha convicção é maior de que este País foi um erro histórico, teve a sua génese num incidente, é fruto de uma aldrabice, de um "chico-espertismo".
Depois de ter sido governado, leia-se regido por idiotas, atrasados mentais e maricas, vê-se agora desgovernado por outros espécimens quejandos, que vêm desgovernando o país e governando-se a si mesmos.
Julgo que se aproxima a hora de chegarmos todos á conclusão que é destino nosso a nossa anexação a Espanha de onde aliás nunca deviamos ter saído.
Em vez do nosso já gasto e cada vez mais injustificado Viva Portugal, deviamos dizer e aí com orgulho Viva Espanha.